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  • Foto do escritorAderbal Machado

Mano Aimberê se foi, após longo sofrimento e depois de vitórias conquistadas no espaço e no tempo


O mano Aimberê não resistiu às mazelas da doença e se foi na noite deste sábado, após longo sofrimento. Seu passamento me deixa dolorido, mas confortado pelas belas lembranças de nossa fértil convivência ao longo da juventude e, após, nas curvas da vida que cada um decidiu levar. Vivíamos longe, porém próximos. De ideias diametralmente oposts, nos respeitávamos muito. Jamais nos conflitamos por isso. Pelo contrário, nossos encontros eram regados a lembranças doces da infância, coisas de família, situações cômicas vividas aqui e ali. Desde quando, marinheiro, ele me alegrava com suas cartas e, quando presente em casa nas suas folgas, me levava a dançar na Boate do Quitandinha, no Araranguá.

Algumas vezes, relembro, fomos ao nosso solo natal, a Boa Vistinha, no Turvo. Ali alimentávamos a recordação de um tempo do qual nunca nos desligamos. Até com muito orgulho e vaidade. Em momentos assim, uma volúpia de lembranças nos açodava. Parecia um lenitivo de alegria e satisfação.

Vaidoso, repetia a honra de ter prestado serviço militar na Marinha do Brasil, nos idos de 1957 a 1960, na Escola de Aprendizes Marinheiros em Floripa e, depois, na Escola Naval de Villegaignon, no Rio de Janeiro, que adorava.

Foi o único dos irmãos que completou curso acadêmico. Se formou em Direito e era advogado jubilado da OAB-SC. Aposentou no Banco do Brasil, após 25 anos de serviços prestados com galhardia e absoluta competência.

O Aimberê (Araken Machado), desde seus 15 ou 16 anos, defendia socialismo. E viveu a vida toda assim. E o fazia com sólido embasamento histórico e cultural, embora de quase tudo eu discordasse. Mas dizia isso e ficava por ali. Ele sabia e eu sabia e pronto. Nada de confronto.

Esteve preso durante o movimento militar de 1964. E aqui uma ironia que nos causou muitas piadas durante a vida: ele preso e eu soldado do Exército, quase seu carcereiro. Chegamos a nos encontrar neste condição, em Tubarão, no auge do movimento. Mas fomos separados pelo comandante da Companhia, por questão de "segurança", ao saberem de nosso vínculo fraterno. Pois não sabiam até então.

Era conhecedor profundo, e iluminava os olhos ao falar, da vida de Érico Veríssimo e da epopéia de Canudos e a personalidade de Euclides da Cunha. Relatava com detalhes mínimos, datas, nomes e locais.

Escreveu vários livros, todos na estante virtual ainda agora. Pesquisou enormemente.

Pois ele agora encerra a jornada terrena. O mundo perde um autêntico. E eu perco uma referência. Nossos momentos únicos ficarão gravados pra sempre aqui no meu coração.

Até breve, mano véio do meu coração.


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