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  • Foto do escritorAderbal Machado

Magoado pelo meu gatinho doente, mas volto à história de um país que me dá inveja: Portugal


Começo homenageando meu valente gatinho Félix, acometido por um surpreendente e demolidor câncer intestinal. Estamos tratando com quimioterapia. Mas é irreversível, segundo o oncologista veterinário. Dará uma sobrevida. Cogitou-se eutanásia. Jamais. Vamos tratá-lo, gastando um dinheiro que não temos, para garantir-lhe um final de vida digno e perto dos seus, cercado de carinho. Ficará conosco até quando for possível, não importa o custo.













A ele dedico a singeleza de Fernando Pessoa, para tentar me aliviar neste momento terrível:

"Gato que brincas na rua

Como se fosse na cama,

Invejo a sorte que é tua

Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais

Que regem pedras e gentes,

Que tens instintos gerais

E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,

Todo o nada que és é teu.

Eu vejo-me e estou sem mim,

Conheço-me e não sou eu"


Entanto, precisamos ir adiante, embora com a alma ferida e o coração angustiado. Vamos então.


Pois retorno a falar sobre a viagem a Portugal, em dezembro de 2019, minha mulher e eu, a fim de ver o nascimento da netinha portuga Liz, hoje uma linda ruiva, cabelos de fogo e brejeira como poucas.


Naqueles 20 dias frutíferos, cuidei de observar comportamentos e circunstâncias.

1. Nas ruas de São Domingos de Rana, Grande Lisboa, onde moravam a filha Andreia, o neto Arthur, a neta Liz e o genro Gregory (hoje estão morando em Carcavelos), circulei muito. Arborização absoluta. Córregos públicos puríssimos, até com peixes. Parques imensos, como o Parque do Bugio. Árvores frutíferas nos terrenos públicos e à beira dos muros. Condomínios abertos.


2. Andei bastante e não vi um sequer gari nas ruas, nem caminhão de lixo. Condomínios e residências não têm recipientes pra lixo doméstico. Este precisa ser guardado em casa e, ao final do dia, é levado a contêineres públicos, que toda quadra tem. O caminhão de lixo recolhe tudo à noite.

3. Nada de lixo nas ruas e, exótico: não há lixeiras por todo canto, só em locais estratégicos, com nas saídas de supermercados e pontos de alta frequência, como os locais turísticos.


4. Nos supermercados, os carrinhos de compras são presos a um sistema, só liberado ante o depósito de um euro, recuperado quando o carrinho retorna à origem. Nos caixas, zero sacolas de plástico.


5. Ainda irregular por lá, a filha deu entrada na maternidade usando o formulário PB-4, produto de convênio Brasil/Portugal, que dá direito a atendimento de SUS por um ano e renovável. Com uma diferença: altíssima qualidade e nada de esperas, praticamente.

6. Ao sair da maternidade, a criança já terá sua identidade magnética com todos os dados em chip. Detalhe assombroso: a receita médica tem os remédios, cujo preço é mostrado e em NENHUMA farmácia do país pode ser diferente, exceto se o paciente quiser trocar de laboratório. E mais: há a data da fabricação e a validade.


7. Numa vez, além dos tantos pontos históricos (noutras crônicas contarei), fomos a Carcavelos, praia lindíssima. Tudo à beira da orla. Bons restaurantes. E, vejam, cães circulando nas areias e entre as mesas dos restaurantes. Não é vedado e ninguém impede ou reclama. Entretanto, se ocorrer algo danoso pelos cães, o dono é responsável e cobrado na hora.


8. Cinto de segurança, em táxi ou uber: se o passageiro estiver sem e for flagrado, é ele quem paga a multa. Ah, sim: multa cash, com recibo na hora. Ou não sai do lugar. Ou vai preso. O motorista está isento se estiver ele mesmo de cinto. Senão, marcha também. Se não tiver grana na hora, é levado até um caixa rápido.


9. Transporte público: se vi dois ou três ciclistas circulando nos centros urbanos foi muito. Só nas ciclofaixas das praias. Motocicletas: lembro-me de ter visto uma circulando. Assim mesmo porque olhei, pois absolutamente silenciosa.


10. No trânsito, ninguém atravessa fora da faixa de segurança. E motorista PÁRA.


11. Transporte público II: tudo é de trem. No país inteiro. Não vi um ônibus. Só microônibus, que servem para levar os passageiros até as gares dos trens. Limpíssimas e ordenadas. Numa delas, em Belém, com um piano para quem quiser e souber tocar. Brilhando de conservado. Compra-se o crédito até onde queira ir e é só ir passando nas catracas. Não há ninguém para cobrar. Ao menos parece, porque fiscalização deve existir, quando alguém burla. Não vi.


12. Se gostar de churrasco, prepare-se: carne vermelha e de gado é caríssima e rara. No mais é frango, coelho, porco e outros bichos. Se quiser dois bifinhos pra matar o desejo é de rebentar o orçamento.


13. Finalmente: os trens saem RIGOROSAMENTE nos horários. E dentro deles há informações em painéis de horário, condição de tempo, itinerário e as paradas.


Que inveja me deu...

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