Num dia assim, papai se foi
- Aderbal Machado

- há 21 horas
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Em 24 de outubro de 1959, papai faleceu num quarto do Hospital Bom Pastor, no Araranguá, depois de longa internação. Tinha problemas cardíacos sérios, tratados durante muitos anos. Completava seus 81 anos (nascido em 5 de janeiro de 1878 em Palhoça), exatamente minha idade hoje. Se vivo pudesse estar, teria 147 anos.
Papai era metódico, autodidata, advogado provisionado desde o começo do Século XX e advogou por mais de 50 anos em Conceição do Arroio (RS), Criciúma e Araranguá. Durante muito tempo foi o advogado da CBCA, empresa carbonífera de Criciúma. Também advogou para a Empresa Força e Luz do Araranguá, propriedade de José Firmino Leitão, seu amigo pessoal.
Em família, tinha um estilo, digamos assim, duro e solto ao mesmo tempo. Dava plena liberdade aos filhos, menos fumar perto dele. Detestava cigarros. Os filhos, aliás, saíram novos de casa para viver a vida: Aryovaldo (15 anos), Attahualpa César (16 anos e casou nesta idade), Agilmar (escapou para a vida e chegou a viver parte da juventude em Urussanga), Icleia (casou aos 18 anos), Aimberê (foi pra Marinha, de onde saiu após o falecimento de papai). Eu ainda vivia sob sua tutela no falecimento - tinha 15 anos.
(E saíram por vontade própria, todos, dado que queriam liberdade plena e sabiam que ali na casa mandava ele - pura verdade. Ele concedeu-lhes a liberdade para serem o que quisessem e pudessem, mas advertiu: a liberdade custa caro. Dito e feito. Bota caro nisso, não é mesmo? Mas o direito de ser o que desejar vale a pena, ainda que sob fogo cruzado da vida, coisa do jogo)
Quanto à disciplina, jamais bateu num filho. Porém impunha e exigia respeito. Sem nada falar. Só olhar e agir. Acreditava no exemplo. E funcionou. Ousar contrariá-lo exigia coragem. Gostava de uma boa conversa sobre qualquer assunto. Tivemos vizinhos estrangeiros, como dona Clara Wollenschllager, uma alemã casada com um ex-soldado alemão fugido da II Guerra para o Brasil. Com ela vi e ouvi muitas vezes diálogos em alemão fluente. Ele falava alemão, italiano, francês e espanhol. Sem jamais estudar nenhum desses idiomas. Tudo de leitura e pesquisa. Um dos seus livros prediletos era "A Retirada da Laguna", do Visconde de Taunay. Admirava Peron, Churchill e De Gaulle.
E agora lá se vão 66 anos que ele desencarnou (falo assim, pois ele era espírita kardecista convicto e homeopata - a ponto de manter uma farmácia de remédios homeopáticos em casa, para a família e amigos e lembro alguns nomes: Noz Moscada, Veratum Viridi. Ficaram marcados comigo). As lembranças permanecem acesas, pois essas coisas não somem como por encanto vindas de uma relação afetiva diferenciada como era a dele conosco.
A história não se cala e não se omite. Papai sempre será papai, o Senhor Doutor Manoel Telésforo Machado, um dos primeiros advogados e o primeiro professor do Araranguá, lá nos seus primórdios.

LIVRO HISTÓRICO SOBRE ARARANGUÁ FALANDO DE PAPAI AUTOR: CÔNEGO PAULO HOBOLD

CARTÃO DE PAPAI PEDINDO POR MIM AO ENTÃO INSPETOR ESCOLAR OTÁVIO MUNIR BACHA, DO ARARANGUÁ
(PUBLICIDADES INSTITUCIONAIS)














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